V Cultura e Negritude em Santo Amaro: uma experiência de formação e troca de saberes

O V Cultura e Negritude teve sua abertura no Museu do Recolhimento dos Humildes em 9 de maio de 2018. A mesa institucional contou com a participação do professor Danillo Barata (diretor do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas – CECULT), professora Goretti Fonseca (Pró-reitora de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis – PROPAAE) e  Pai Sérgio, representando o Babolorixá Pai Pote.

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Profa. Goretti Fonseca, Prof. Danillo Barata e Pai Sérgio.

O Prof. Danillo Barata iniciou a mesa agradecendo ao Prof. Claúdio Orlando e a Profa. Rita Dias pelo acolhimento desde a sua chegada, assim como o apoio em todos os eventos do Centro, em especial o Cultura e Negritude. Em uma breve fala, ressaltou a importância de se levar o evento ao Museu do Recolhimento.

A Prof. Goretti fez uma crítica ao atual contexto político brasileiro e o desmonte de direitos, sobretudo na educação. Pontuou que a UFRB se destaca como uma universidade diferenciada por seus projetos e cursos de extensão voltados à cultura. Salientou a importância desse evento para o CECULT/UFRB e finalizou afirmando que o Cultura e Negritude é um fortalecimento dos negros, em especial para o Recôncavo.

Pai Sérgio, representando o Babalorixá Pai Pote, fez uma saudação a Xangô e logo em seguida, falou da importância do Cultura e Negritude e do Bembé do Mercado para Santo Amaro. Afirmou que o Bembé do Mercado, apesar de sua relevância, é rodeado de estereótipos e, por conta disso, se torna um evento que não é aceito pela maioria. O Cultura e Negritude, para ele, promove o reconhecimento, permitindo se assumir como realmente se é. Na oportunidade, convidou o Cultura e Negritude para ir aos terreiros, indo além das escolas, do Mercado, do CECULT. Falou sobre a importância da representatividade do povo de santo na política local e, por fim, pediu as bençãos dos orixás para os presentes.

Após a abertura do evento, ainda no Museu Recolhimento dos Humildes ocorreu a roda Danças negras: memória, performance e expressão. Onde os performers Paulo Fonseca e Guengo Anunciação do Balé Teatro Castro Alves se apresentaram com a mediação dos professorxs Carol Diniz e Maciek Rozalski. Dando início a atividade, Guengo Anunciação apresenta sua dança intitulada “Missa do Sétimo Dia”, onde explora a temática do genocídio da população negra e continua a marginalização sobre o corpo negro e as suas identidades. Paulo Fonseca traz em sua performance a dança aliada a narrativa sobre sua história de vida desde a infância como uma criança sempre em movimento, sua relação corporal com os elementos da diáspora negra e, a formação no Teatro Castro Alves, utilizando da técnica coreográfica para associar esses lugares de memória ao corpo negro em transito.

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Danças negras: memória, performance e expressão.

Pela tarde, o evento continuou no Cecult com a Roda de Saberes e Formação II, que contou com a participação das professoras Regiane Oliveira, Sarah Carneiro, Mariela Pitombo, Laura Bezerra (CECULT/UFRB), sob coordenação da Profa. Tatiana Lima (CECULT/UFRB). A mesa discutiu Cultura, Identidade e Formação a partir de diferentes perspectivas e linhas de pesquisa.

A Roda de Saberes e Formação III com o tema A identidade negra​: tradução na arte em verso e prosa, foi coordenada pelo mestre Rubens Cunha e teve como debatedoras as professoras Ana Urpia, Waleska Martins e Luciana Reis. A professora Ana Urpia iniciou a sua fala discorrendo sobre o texto Vivendo de amor, o qual aborda sexismo e racismo e também relata a cura das mulheres negras na arte de amar; a cura da dor causada pelo racismo na alma das mulheres negras. Em seguida a Doutora em Literatura Luciana Reis, discutiu o a subjetividade presente no trabalho de tradução das obras escritas por negros, visto que temos poucos tradutores negros e que o lugar de fala tem peso importante para a interpretação do que é narrado.

A Roda de Saberes e Formação IV com o tema Cultura e Negritude: política e gestão institucional para a formação da diversidade, uma agenda propositiva contou com a participação dos professores Rita de Cássia Dias e Cláudio Orlando Nascimento (Área de Conhecimento Formação Geral, Interdisciplinaridade e Interculturalidade- BICULT/CECULT/UFRB).

Para finalizar o dia, a Roda de Saberes e Formação V discutiu Conhecimento, ciência e realidade: Abordagem sobre a identidade do BICULT/CECULT e trouxe como debatedores os professores Victor Valentin, Augusto de Sá, Paulo Fonseca e Lucio Agra
(UFRB) com coordenação de Sérgio Martins. Víctor​ Valentin​ expôs a sua vivência no ambiente cultural e incentivo a importância das práticas de políticas aplicadas no CECULT para melhorias e construção de um ambiente educacional formativo e itinerante.Augusto de Sá em sua fala apontou que a educação é um bem público, uma importante ferramenta política de transformação e construção democrática da sociedade. A universidade tem o papel de transformar a educação, o CECULT assume a luta por essa educação transformadora e afirmativa da identidade do Recôncavo Baiano quando valoriza as múltiplas identidades deste território onde está localizada. Paulo​ Fonseca​ discorreu a sua atuação no CECULT como discente do componente Conhecimento, Ciência e Realidade, propôs falar sobre o tema de identidade racial, ciência e sociedade sendo este temas coproduzidos por uma sociedade onde impõem a ciência como explicação de todos os fenômenos existem no mundo. Lúcio​ Agra​ contou para os ouvintes seu aprendizado contínuo BICULT/CECULT. Relatou sua experiência e dificuldades quando estava cursando a graduação em uma universidade pública do Rio de Janeiro e afirma que todas as etapas de sua vida foram importantes para a formação de sua percepção cultural como indivíduo.

No dia 10 de maio o evento teve continuidade no Colégio Polivalente de Santo Amaro. a mesa institucional de abertura foi realizada pelo professor Cristiano Vitório, diretor da instituição de ensino.

Em sequência, iniciou-se a Roda de Saberes e Formação VI sobre Saberes tradicionais e cultura: uma pauta para a educação e a saúde. Com a coordenação Franscesca Bassi, o debate aconteceu entre Elga Lessa, Jadson Santos (PPGMPH), a coordenadora de enfermagem Bárbara (representando o Secretário de Saúde de Santo Amaro, João Militão) e Manoela Pereira (BICULT/CECULT/PET).  A mesa trouxe uma discussão sobre a valorização dos conhecimentos tradicionais na saúde e na educação. Manoela Pereira contou um pouco da sua experiência como orientadora espiritual e falou sobre a utilização de folhas e banhos no processo de cura. Bárbara, apesar de reconhecer a importância da medicina, apontou também para outras formas de tratamento que são passadas de geração em geração através da cultura oral transmitida pelos mais velhos. Jadson Santos apresentou parte da sua pesquisa sobre as rezadeiras de Cachoeira.

Pela tarde ocorreu a Roda de Saberes e Formação VII sobre Universidade, identidade e formação: Nós podemos PET Acesso, permanência e pós-permanência na UFRB e Pet AFIRMAÇÃO com a participação de Iasmin Gonçalves, Maiane Neri, Natanael Conceição, Raudiney Anjos e Murillo Pereira, estudantes egressos do grupo que falaram sobre suas trajetórias de vida-formação, afiliação acadêmica, políticas afirmativas, identidade e representação. O debate promovido através dessa mesa foi muito rico pelo fato de os estudantes do Colégio Polivalente conseguirem perceber uma identificação com as histórias de vida dos petianos e, a partir disso, enxergar o ingresso na universidade como uma possibilidade real. Após o debate, foi exibido e discutido o filme Pantera Negra.

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Roda de Saberes e Formação VII: Universidade, identidade e formação: Nós podemos PET Acesso, permanência e pós-permanência na UFRB e Pet AFIRMAÇÃO 

Na manhã da sexta-feira, 11 de maio, o V Cultura e Negritude continuou suas atividades na sede da Filarmônica 19 de Março em Acupe. A Roda de Saberes e Formação VIII discutiu Cultura e Negritude: arte, tradição e formação, com a participação das professoras Vanda Machado (PPGMPH/UFRB), Daniele Canedo (UFRB), Rosildo do Rosário (PPGMPH/UFRB) e mediação pelo professor Luciano Simões (UFRB). Vanda Machado​, doutora em educação, uma sacerdotisa ancestral, que defende a importância da educação de qualidade e dentre os seu maiores marcos nacionais de impacto dentro da educação. A doutora criou no dia 11 de maio de 2018 no V Cultura e Negritude, o dia que marca o nascimento do “A universidade é nossa”. Darielle​ Canedo​ apresentou a importância da mulher na construção da educação e a interdisciplinaridade cotidiana e das artes para o aprimoramento da educação e formação da sociedade. Rosildo do Rosário​  apresentou os desafios da educação em especial dentro das escolas públicas, com isso apresentou as possibilidades aos seus educandos presentes.

A Roda de Saberes e Formação IX: História, memória e negritude: cidadania e emancipação foi realizada pela tarde no Mercado Municipal de Santo Amaro e teve como palestrantes a Yalorixá Nice, os professores Paulo de Jesus (UFRB), Ana Rita Machado (UNEB), Silvio Humberto (UEFS) e o Babalorixá Sérgio de Ayrá e mediação da professora Kelly Barros (UFRB). Paulo de Jesus falou sobre o processo de construção do Brasil e que sua pesquisa foi instigada a descobrir porque o processo de escravidão no Brasil demorou tanto tempo para ser extinto. Contextualizando também a luta por emancipação do povo brasileiro, ressaltando a importância do 13 de maio como ato de resistência, que se fez presente no fortalecimento politico. Ana Rita Machado, pesquisadora do Bembé do Mercado, relatou o processo histórico de salvaguardar o Bembé como Patrimônio Imaterial. Silvio Humberto revisitou a sua tese de 2004, pontuando alguns aspectos históricos importantes, como a economia açucareira, escravidão e racismo, a ideia de democracia racial e historização do povo escravizado. O Babalorixá Sérgio de Ayrá, abordou em sua fala a importância da ancestralidade em nossas vidas, explicando que o Mercado do Bembé é um Patrimônio Imaterial que não deve ser considerado só como um evento cultural mas sim, como uma celebração espiritual aos nossos ancestrais.

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Roda de Saberes e Formação IX: História, memória e negritude: cidadania e emancipação no Mercado Municipal de Santo Amaro

No sábado, 12 de maio, a programação do V Cultura e Negritude foi integrada aos festejos do Bembé do Mercado.

Em 13 de maio,  o evento foi realizado na Associação de Moradores de Itapema com a Roda de Saberes e Formação X, discutindo Ancestralidade e negritude: como a fé se movimenta, com os professores Denize Ribeiro (UFRB), Eduardo Oliveira (UFBA), Mestre Monza Calabar e mediação de Hélio Viana Ramos Filho (Acadêmico BICULT/CECULT-Comunidade de Acupe). O momento contou ainda com a presença ilustre do professor Kabengele Munanga que aproveitou a oportunidade para pontuar a importância da discussão que se fazia ali. Professora Denize Ribeiro falou sobre a sua trajetória de vida, sobre os diversos arranjos de sua família chefiada por mulheres negras e importância da reconstrução das árvores genealógicas, afim de resgatar quem somos a partir do nosso passado. Mestre Monza Calabar iniciou sua fala fazendo um apanhando de sua trajetória
dizendo quem é ele e de onde ele veio, apresentando a figura da sua vó Olegária como a mulher quem o crio e o transformou (pescador, serralheiro, professor de dança). Pontuou a intencionalidade do V Cultura e Negritude vinculado e acontecendo juntamente/simultaneamente ao Bembé do Mercado como algo importante e propõe que o nome do nosso encontro seja Cultura e Negritude “em movimento” por ser um evento cíclico e itinerante. Professor Eduardo Oliveira trouxe em sua fala uma inquietação no que diz respeito à negação da história do povo negro dentro da Universidade, contextualizando a discussão com o momento político do país e trazendo questionamentos a partir da conjuntura atual e os meios que temos para solucionar as
problemáticas e retrocessos que vivemos nos dias atuais.

O encerramento aconteceu com a tradicional entrega do presente para Iemanjá na praia de Itapema.

 

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